MINHA MÃE-NATUREZA
Minha mãe
fazendo canteiros, plantando e colhendo. Era a minha mãe natureza ajudando a
natureza. E brotavam cenouras, alface, almeirão, vagem, repolho, milho,
mandioca e os moranguinhos... Ah, os moranguinhos! Os canteiros mais lindos de
nosso quintal na época de sua colheita! A horta era cercada por bananeiras,
limoeiros, laranjeiras e tinha como vizinha a mais bela parreira que já
conheci, sempre verdinha, coalhada de cachos de uva enormes e muito doces nos
meses de verão. Era embaixo da parreira que brincávamos de boneca, casinha e de
comadre. Comíamos na própria horta os legumes e verduras cultivados por minha mãe,
sem agrotóxicos, e tinham o gosto bom do amor, da pureza e da sabedoria
daquelas mãos caprichosas.
O ritual do
cuidado começava logo pela manhã: mal o sol nascia minha mãe regava os
canteiros, arrancava os matinhos que insistiam em nascer todos os dias,
retirava as folhas mais velhas das verduras e colhia o que seria preparado na
refeição daquele dia. Ainda tenho na memória as cores e o sabor da comida
caseira, jamais encontrados em qualquer dos restaurantes sofisticados que vim a
conhecer muito depois. O verão trazia surpresas maravilhosas: as chuvas do meio
da tarde faziam os cachos de uva amadurecerem num toque de mágica. Era sempre sol e chuva (casamento de viúva)
coroados por um lindo arco-íris que operavam o milagre dos cachos de uva, que se
eram verdes pela manhã, tornavam-se maduros após a chuva. E corríamos para
debaixo da parreira, e ali mesmo comíamos os cachos maiores e mais doces, junto
a um cenário de água, luz e cores.
Moramos,
depois, em várias casas e
várias cidades. Não havia mais parreira, porém a horta era preparada e
cultivada por minha mãe a cada nova moradia que chegávamos. Os vizinhos sempre
iam buscar “um pouco de verdura” da dona Irene e elogiavam as folhas largas e
verdinhas, os legumes tenros e perfeitos na forma. Mãos mágicas de minha mãe!
Mãos abençoadas pela natureza!
Hoje não tem
mais dona Irene. Não temos mais horta em nossa casa. Apenas guardamos na
memória o sabor da infância misturado a uma grande saudade que nos provoca
doces lembranças.
Costelas Felinas
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