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O TRAVESSEIRO MAIS PRECIOSO DA MARQUISE - por Vieira Vivo


TRIP NOS TRÓPICOS

            A manhã, naquela ilha tropical, iniciava com o sol cozinhando os miolos. A temperatura se anunciava quente, ou melhor, tórrida. As pequenas construções que serviam de moradia a hippies e artesãos eram sufocantes e abafadas e, ainda, com os fogareiros acesos para a alimentação matinal a permanência nesses recintos se afigurava a estar prisioneiro de uma caldeira em pressão máxima.
            O desjejum tinha como cardápio café bem forte e fervendo acompanhado de quitutes bem apimentados. Tinha-se a nítida impressão de que toda a férvida emanação solar adentrava goela abaixo.

            Para refrescar-se  a opção era caminhar, até à praia, por uma trilha ensolarada e árida repleta de cansanção; uma espécie de urtiga que em contato com a pele provoca dolorosas queimaduras. Essa caminhada tinha, ainda, como insistente companhia nuvens formadas por milhares de mosquitos denominados pólvora, pequeninos pontos negros possuidores de ferroadas semelhantes a agulhas em brasa.
            A ilha tinha à sua volta e ao largo um extenso paredão de recifes. Isso fazia com que as águas da orla  ficassem represadas ao sol, e à medida que a temperatura do dia se acentuava, banhar-se nessa praia dava a concreta sensação de boiar no interior de uma chaleira fervendo.
            Mesmo a despeito de tão traumáticos eventos um banho de mar não seria de todo ruim. Ocorre que a quentura excessiva da água propiciava a proliferação alarmante de águas-vivas,  seres marinhos com a propriedade de causar chagas e queimaduras quando em contato com a pele. E de, possuírem, ainda, o detestável hábito de, traiçoeiramente, afixar-se no corpo dos banhistas com uma volúpia tão intensa que ao serem retiradas deixam como lembrança profundas feridas ardentes.
            Após todo esse regalo apresentava-se à frente o caminho de volta. Com a pele ardida e vermelha devido ao forte salitre e sacrificada pela ação implacável do sol nos pontos que haviam escapado das ervas, espinhos, mosquitos, fervuras e águas-vivas subíamos a íngreme e espinhosa encosta rumo à nossa tórrida moradia.

 Lançamento dia 27/11/2016 dentro do projeto DOMINGO CULTURAL - saiba mais

Posto 6 - Biblioteca Mario Faria-
Av. Bartolomeu de Gusmão, s/n - Santos - orla da praia
entrada franca


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