(Para todos aqueles
que ainda escrevem cartas)
Quem escreve cartas hoje? Não, não falo de meras mensagens
eletrônicas. Estou falando de cartas escritas com paixão. Cartas carregadas de
afeição. Refiro-me àquelas que são postadas nos correios. Quando enfrentamos
filas, compramos e colamos selos. Quem escreve e recebe respostas destas
cartas, sabe como é bom chegar às nossas casas nos crepúsculo de cada dia e
encontrar uma dessas missivas de amigo. Não, não falo de convites, cartas
institucionais, propagandas de cursinhos, de prospectos impessoais oferecendo
remédios para calvície, gorduras e todos os infortúnios da alma e do espírito.
Falo de cartas e amigos e de amadas. Carta, para mim, é aquela que contém pele,
carne, sentimentos. Nesta crônica queria defender, como um Mário de Andrade
reencarnado, a restauração do hábito de redigir cartas. Mesmo que
fragmentárias, trôpegas, curtas. Carta onde a gente leva algo de nós próprios.
Nos tempos da impessoalidade, da tecnologia, da obsessão do lucro, onde o Deus
mercado impera escrever cartas pode não ser algo napoleônico, mas faz muito bem
à alma. VIVA A EPISTOLOGRAFIA!Deixemos o pessimismo para tempos melhores... Os
indivíduos morrem, porém a sabedoria que conquistaram ao longo de suas vidas
não. A humanidade guarda toda a sua sabedoria, e cada um faz uso da sabedoria
daqueles que o precederam, como salientou Leon Tolstoi. Amigo: escreva cartas!
Termino com a iluminada Clarice Lispector, que também amava as cartas: “Até
chegar à rosa foi um século de coração batendo”.
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