Pular para o conteúdo principal

História da Música - Parte I - cont.

 
História da Música — Parte I: Introdução (continuação)

         Não somente as classes menos instruídas, mas, agora, musicistas, maestros, profundos conhecedores de música, freqüentadores de óperas, recitais, sinfonias e concertos não mais puderam ignorar o crescente fenômeno do que antes reputavam subcultura: Requintados teatros passaram a ombrear com amplas concentrações de massa, estimuladas por apresentações de artistas de grande apelo popular, dado o aparecimento de gêneros como o samba, no Brasil, com seus desfiles  carnavalescos; e o rock´n´roll. O rock, como ficou mundialmente conhecido, operou verdadeira revolução de costumes; egresso da música negra de raiz norte-americana, influenciou, a partir dos anos 1950, de modo irreversível, hábitos, vestuário, modos de ver o mundo e postar-se diante dele, com reflexos no âmbito político, tendo como um de seus principais momentos o Festival de Woodstock, realizado na cidade rural de Bethel, estado de New York, Estados Unidos, entre os dias 15 e 17 de agosto de 1969, que atraiu mais de meio milhão de expectadores e exemplificou a era hippie e a contracultura do final dos anos 1960 e início de 70.


         Posto isso, o sentido informal e arraigado de música clássica, música absoluta, em oposição a tradições populares, a princípio aparentemente sem compromisso com a intelectualidade, a necessidade de executar-se em salões e teatros e outras formas do fazer artístico, havemos de atentar ao critério formal da expressão como escola — o período clássico ou classicismo. Tomemo-la,  doravante, tal qual deve empregar-se — à luz de um estudo histórico e musicológico —: O estilo que predominou entre meados do século XVIII até a segunda década do século seguinte, com inicial predominância do rococó, e pautado na obediência à elegância melódica e às regras de harmonia e de equilíbrio formal. Isso, pois, é música clássica formal e propriamente dita; a espécie, o ramo de gênero musical, digamos, mais abrangente — a música erudita. Segundo tais requisitos, o clássico se distingue não apenas da música popular, como é óbvio, mas, sobremaneira, de outras escolas musicais, também de viés erudito, de igual modo assinaladas por diversos atributos. A liberdade ou o estrito cumprimento das formas, os sentimentos contidos, os arroubos emocionais, o inflexível rigor contrapontístico, a supremacia da fé católica, o pietismo, o rompimento das estruturas tonais, a música aleatória, o minimalismo — são considerados fatores distintivos na produção musical, e se circunscrevem a tendências decorrentes de manifestações interdisciplinares de outras não menos importantes expressões artísticas, tais como a literatura, a escultura, a pintura e o teatro, e de acordo com os pensamentos político e filosófico vigentes, o regime de mecenato, com maior ou menor patrocínio das artes, conforme diferentes épocas e lugares.

Mozart
Vivaldi
         Durante o apogeu do classicismo, intermediário dos períodos barroco e romântico, sem desprezo de outros importantes criadores contemporâneos — dois dos filhos de J. S. Bach: Carl Phillipp Emanuel Bach (1714-1788), considerado o precursor desse estilo, e Johann Christian Bach (1735-1782); Joseph Boullogne, Chevalier de Saint-Georges (1745-1799); Domenico Cimarosa (1749-1801); Antonio Salieri (1750-1825); e Muzio Clementi (1752-1832) —, três nomes surgiram, tornando-se sinônimos do modelo clássico: Joseph Haydn (1732-1809), Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e Ludwig van Beethoven (1770-1827). Graças a estes, não só o classicismo vienense — por haverem concentrado suas atividades profissionais na capital austríaca, a Meca de toda uma legião de notáveis musicistas, ainda hoje conhecida como a “capital mundial da Música” — se consolidou, mas, dada a inegável influência e contribuição de suas obras para a Música universal, a própria definição de música de concerto, como que resumisse praticamente todo o repertório de seus antepassados e dos que os sucederam, passou a nomear-se, oficialmente, Música Clássica — embora, esteticamente, como já afirmamos, pertencessem a diferentes escolas.

         Tal fenômeno é simples de apreender: O ouvinte pouco experiente, aos primeiros contatos com obras de Pachelbel e Händel, Bruckner e Wagner, poderá chamá-los de clássicos. Já a um musicólogo, tal não é permitido; deverá saber reconhecer que Pachelbel e Händel pertencem à escola barroca (séculos XVII e XVIII), ao passo que tanto Bruckner quanto Wagner são compositores essencialmente românticos (séc. XIX). O mesmo sucede com as obras de Monteverdi, Henry Purcell, Lulli, Vivaldi, Corelli, Tellemann, Händel, Bach, Schubert, Brahms, Mahler, Villa-Lobos e Messiaen: Em razão dos estilos predominantes das épocas em que foram produzidas, não podem considerar-se clássicas. Ouvir Bach ou Vivaldi significa ouvir música barroca; escutar Rossini, Chopin, Liszt, Verdi ou Mahler, a música que prevaleceu durante todo o século XIX até a primeira década do século XX: O Romantismo.

         Por não se enquadrar, em termos estilísticos, nas regras ditadas por o que define a música nomeadamente clássica — isto é: a simetria e a leveza das formas, a ornamentação rococó, frases equilibradas, com ênfase na graça, na beleza e no galantismo melódicos e de seu acompanhamento, em prejuízo às austeras complexidades contrapontísticas típicas do período anterior, o Barroco —, as obras, por exemplo, da lavra de renomados compositores, como Robert de Reims (1055-1122); Hildegard van Bingen (1098-1179); Adam de la Halle (1237-1287); Guillaume de Machault (1300-1377); Guillaume Dufay (1397-1474); Francisco de la Torre (1460-1505); Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594); Orlande de Lassus (ou di Lasso) (1531-1594); Claudio Monteverdi (1567-1643); Jacob Praetorius (1586-1651); Dietrich Buxtehude (1637-1707); Johann Pachelbel (1653-1706); Antonio Vivaldi (1678-1741); Georg Philipp Telemann (1681-1767); Johann Sebastian Bach (1685-1750); e Georg Friedrich Händel (1685-1759); — e mais tarde — Niccolò Paganini (1782-1840); Carl Maria von Weber (1786-1826); Gioacchino Rossini (1792-1868); Franz Peter Seraphin Schubert (1797-1828); Hector Berlioz (1803-1869); Frédéric François Chopin (1810-1849); Robert Alexander Schumann (1810-1856); Franz Liszt (1811-1886); Wilhelm Richard Wagner (1813-1883); Giuseppe Verdi (1813-1901); Johannes Brahms (1833-1897); Pyotr Ilyich Tchaikowsky (1840-1893); Gustav Mahler (1860-1911); Claude-Achille Debussy (1862-1918); Arnold Franz Walter Schönberg (1874-1951); Joseph-Maurice Ravel (1875-1937); Béla Bartók (1881-1945); Ígor Fiódorovitch Stravinski (1882-1971); e Heitor Villa-Lobos (1887-1959), embora, popular ou informalmente, se conheçam por clássicas, sob aspecto, digamos, técnico, convencional, terminológico, não o são; constituem, num sentido abrangente, música erudita (gênero) — todavia, não música clássica (espécie), uma vertente daquela. Referidos compositores e seus trabalhos acabam por não se enquadrarem, em razão de suas concepções formais e harmônicas, à música elaborada segundo os moldes ditados por aquele estilo que tem, sobretudo, em Haydn, Mozart e Beethoven seus maiores representantes.
 
Santos, 29/08/2012
IVAN PEREIRA SANTOS JUNIOR


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Varal do Brasil - Salão Internacional do Livro

Os preparativos para o 29º Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra já começaram. Estaremos presentes com nosso estande pela quarta vez levando autores de Língua Portuguesa para divulgar cada vez mais nossa literatura. As inscrições para todo autor que desejar participar estão abertas! Também seguimos com as inscrições para nossa quinta antologia: Varal Antológico 5  saiba mais lendo as informações 

FESTIVAL TRAÇO: Música e Desenhos ao vivo

12 bandas independentes de Belo Horizonte se reúnem a 16 artistas gráficos para dar origem ao festival Traço – música e desenhos ao vivo . A iniciativa  é um trabalho experimental, em que os grupos tocam enquanto os desenhistas criam ilustrações ao vivo, projetadas no telão da casa que recebe os shows, o Stonehenge. Composto por quatro edições, com três apresentações por noite, o festival estreia no dia 8 de agosto, às 21h, e tem encerramento marcado para junho do ano que vem. A curadoria musical abrange estilos, formações e propostas diversas. Rock, dub, ska, afrobeat, música instrumental, eletrônica, punk, grunge e “stoner barroco” são ritmos apresentados por bandas que variam de trios a septetos. Os objetivos vão desde apresentar simplicidade por meio de um som direto ou refletir sobre a sociedade contemporânea até “detonar uma experiência sonora alimentada pela cultura negra e urbana, que faça mexer músculos e cérebros”. Provocar a imaginação é também o intuito da curad

Trajes Poéticos - RIMA EMPARELHADA

rimas que ocorrem seguidamente em pares. ********* os poemas publicados aqui participaram do concurso Trajes Poéticos realizado pelo Clube de Poetas do Litoral - salvo os poemas dos autores cepelistas que foram os julgadores dos poemas.