POR QUE
ESCREVEMOS?
Começamos escrevendo para viver e acabamos
escrevendo para não morrer.
Para quem edifica palavras mal rompe a
aurora, escrever é inadiável e urgente, mesmo que nada externamente nos obrigue
a isso. Mas a necessidade interna é visceral, orgânica, chama e fogo, flecha,
algo colado à pele.
Não conseguimos escapar desse
apelo.
Escrevemos para perdurar, para vencer a
poeira do tempo, para despistar a morte, para regar nossos fantasmas e (por que
não?), para amar e se amado.
A literatura é o refúgio da sinceridade num
mundo de pose.
“A literatura é um apelo de fogo, onde mora
meu desespero, a minha inquietação e o meu paraíso”, escreveu
alguém.
Eu sei: tento escrever um hino de amor à
palavra.
Qual a maior viagem (interior) que podemos
fazer, senão aquela que é um mergulho no livro, nesta criação de outros mundos,
nessa peregrinação às áfricas interiores?
“Se o mundo dos objetos palpáveis e vida
prática, não é mais real que o mundo das ficções, dos sonhos e dos labirintos,
então pode ser que o autor de artifícios verbais tenha mais direito à condição
de demiurgo que qualquer outro candidato”, escreveu Samuel Titan Jr., falando
sobre Borges..
Hoje, a realidade chamada virtual fica sendo
mais importante que o humano propriamente dito.
Uma personalidade não aparece porque é boa,
mas é boa porque aparece.
Vivemos uma mudança de época e não uma época
de mudanças.
Ou está inapelavelmente decretado que não há
nada mais a fazer, que o destino já rabiscou todos os
destinos?
Queremos um modelo de consumidores ou de
cidadãos?
Aceita-se passivamente um mundo onde são as
coisas que comandam e não os valores.
Queremos pessoas abúlicas, inertes, numa
globalização onde impera a uniformidade e não a
igualdade?
A literatura é um sonho do eterno. Sua
morte tem sido decretada diariamente.
Mas por que ela continua tão
viva?
Pois há dentro do homem uma sede de infinito
que nenhum modelo meramente mercantil pode saciar.
Emanuel Medeiros
Vieira
Seu romance “Olhos Azuis – Ao Sul do
Efêmero”(Thesaurus Editora/FAC, Brasília, 2009), recebeu o Prêmio Internacional
de Literatura, promovido pela União Brasileira de Escritores – UBE, em
2010.
Foi contemplado com o respeitado “Prêmio
Lúcio Cardoso” para o melhor romance – na avaliação da entidade – publicado no
Brasil em 2009.