A SEDE
“PISANDO SOBRE FORNALHA”
Versando o caboclo canta
Tentando
mudar sua sorte
A sua tristeza acalanta
Nas terras secas e sol forte
Bravo homem se agiganta
Pra não tombar frente a morte.
Segue por veredas tortas
Buscando rumo para vida
Pisando nas folhas mortas
Ignorando as feridas
Pra ele o que mais importa
É ter a sua fé fortalecida.
Sem água seu corpo resseca
Sua pele se esturrica
Não há nada que impeça
Muito menos se explica
Ver a madeira que seca
Trincando a velha barrica.
Pisando sobre fornalha
Areia quase em ebulição
Bolhas que se espalham
Nos pés e no coração
Como sua fé não falha
Pede aos céus proteção.
Pedidos ao seu padrinho
O velho Cícero Romão
As nuvens como caminhos
Conduzindo as suas bênçãos
Que o céu chore de mancinho
Pra umedecer o sertão.
A LÁGRIMA DA MÁSCARA
Uma
incômoda dolorosa e impertinente lágrima
continua
a marcar a minha sensível máscara
borrando
a pintura e deixando suas marcas tão visíveis
com
os fortes sinais que tatuaram a minha alma
provocados
pelo bisturi do tempo de lâmina afiada.
Como
um palhaço um triste palhaço de cara pintada
um
palhaço de alma marcada amplamente torturada
por
dores sufocadas ao longo de tenebrosa estrada
penosa
estrada que a vida moldou a ferro e fogo
sinto-me
um palhaço sem graça um joguete do jogo.
O
tempo fez dos meus olhos dois opacos faróis
enfadados
faróis de luzes cansadas quase apagadas
mas
apesar de tudo ainda faróis de tímido brilho
o
brilho que reflete o fim o fim da jornada enfim
rompendo
minha máscara e roubando-a de mim.
Quando
a luz se esvair na última fenda do meu olhar
quando
o último brilho se apagar o breu então se fará
e aí
a minha até então inseparável máscara me olhará
de
lá para cá pois já não haverá mais olhar de cá para lá
um
novo ciclo recomeçará com a máscara a me olhar.