PÓRTICO
Minha
poesia
tem
gosto de sol
tem
gosto de céu
tem
gosto de sal
e
cheiro de mar
Minha
poesia
tem
gosto de sol
tem
gosto de sal
tem
cheiro de mar
Minha
poesia
tem
gosto de som
tem
gosto de sol
e
cheiro de mar
Minha
poesia
tem
gosto de tarde
e
cheiro de mar
Minha
poesia
tem
gosto de amor
Minha
poesia é a tarde.
—
Com a pureza de uma menina que
emerge
de um jardim de
sombras,
ela
vem, ela vem
a perseguir-me o ideal de um amor
sem ideal
Ela
surge com a leveza de um
pássaro
longínquo... divagante... planando
sobre os ventos e bradando, alto
Ela
tange-me o corpo, que desfalece,
absorto
Desperto
Desperto
sobre laivos rubros; caminho.
Levito
sobre pastos insanos e platibandas; murmuro.
E
que vejo? Não é o negror da
noite,
essa terrível senhora que nos
traga
qual Saturno à própria progênie?
Ela
vem-me, a cantarolar incognoscíveis melodias
que lembram dias alegres]
Ela
vem para afastar todas essas mortes
Ela
vem para celebrar todos meus mortos
Ela
vem para aplacar a desigualdade
Ela
vem ela vem
Ela vem dizer o que é realmente belo
Ela
vem para mitigar todas as fomes
— principalmente, a fome de novas
ideias. —]
Ela
vem porque não existe
Vem-me
por constituir a mais dura realidade
Vem-me,
dançando, calma, e a voltear
À
luz da quintessência da tarde,
não
me julgo outro, senão o reflexo, ou o influxo,
da
amiga
A
amiga — essa regelada aparição, incrustada de
me
vem; caminha, enleada entre
apetites
e paixões, e avulta
Não
sigo: procuro vislumbrar-lhe o talhe seminu
ao
momento estático
do
êxtase
E
vem ela, displicentemente, antegozando a ventura
de
saber-se mulher, entre ramagens, sêmen e acalanto;
e
flana pelos limiares do jardim, quase que
não
para empanar ou engelhar-me a alma, e, sim,
qual
fosse a santidade encarnada,
invocar-me
o nome —
sedenta...
sequiosa...
sôfrega...
já
não mais seminua...
a
pairar sob um caramanchão
e
aguardar-me, para, ali, fazer
perder-me.
Santos,
12/04/2012
TEXTOS (extratos de meu livro "O Poema Tangenciado o Abismo, ou 'Um Livro Para Uma Metafísica da Poética'")